Na próxima semana, acontece a Flip - Festa Literária Internacional de Paraty, um dos eventos mais relevantes para o mercado literário brasileiro.
Eventos como a Flip são cruciais para demarcar nomes da literatura contemporânea, destacar tendências, temas e discussões que se encontram em um certo centro de pensamento intelectual e criativo.
Descobri que tenho poucas fotos das edições em que estive, provavelmente porque estava vivendo demais.
Feiras, festas e prêmios têm uma importância óbvia: Ditam valores, legitimam trabalhos, contribuem para que alguns livros entrem em um cânone.
Se você é uma pessoa que escreve e/ou lê literatura, esses eventos vão provavelmente te influenciar. Porém, há vida fora do centro e há literatura fora da Flip - ou fora do palco que é colocado no centro dessa festa.
Desde sempre, junto aquilo que emerge com mais destaque, há um sem número de pessoas criando sem garantias de que algum dia também possam vir a aparecer1. Algumas dessas pessoas estarão disputando um lugar nesse centro, outras vão buscar diferentes tipos de legitimação, desejo, ímpeto criativo. Existem inúmeras formas de escrever, fazer arte, criar, assim como existem muitos modos de se tornar escritora e artista.
Digo isso não só para aplacar a ansiedade de quem não estará na Flip, mas também de quem vai estar pelas ruas de Paraty. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e é fácil fácil sentir que você está perdendo algo.
Justamente porque é inegável o poder de eventos como esse - pelo menos para quem ainda vive em torno de livros - que acredito ser crucial lidar com eles com um pouco mais de consciência e autonomia.
A Flip se torna muito mais interessante quando escolhemos o modo como vamos interagir com as suas possibilidades.
Quando assumimos uma postura mais ativa e consciente, ou seja, quando não somos apenas guiades pelas informações mais óbvias ou fáceis que chegam até nós, fazemos escolhas melhores, desfrutamos mais profundamente da riqueza que há tanto nesse centro quanto nos seus entornos.
Esse é um texto com recomendações para viver a Flip escrito por alguém que não acha que a literatura se resume a esse espaço, mas obviamente gosta de fazer parte da festa e das trocas que ela proporciona. E acho que esse é o ponto crucial: o melhor da Flip é encontrar pessoas, conversar, descobrir novas referências. E tudo isso pode ser ainda mais bonito e interessante se estamos caminhando com atenção e curiosidade.
Organizei as minhas recomendações começando por dicas que podem servir também para pessoas que não estará em Paraty e, depois, sigo por um caminho mais específico para quem vai viver a Flip 2024:
Explore a programação como um caminho de pesquisa.
Quais são os debates que a Flip está levantando? Quem são as pessoas que vão participar dessas conversas? Quais desses temas e autorias dialogam com os seus interesses de leitura, escrita, pesquisa? Essas são algumas perguntas que faço para me nortear pelas listas, tentando entender um panorama geral para, depois, partir para uma investigação mais específica e aprofundada, de acordo com meus próprios critérios. É legal lembrar que todas as mesas da programação oficial são transmitidas no telão no centro de Paraty e no canal do YouTube da Flip. Vale muito a pena conferir os debates de outras edições e, principalmente, as performances! Pessoas como Natasha Felix, Adelaide Ivanóva e Grace Passô já se apresentaram no palco da Flip e o registro tá lá pra todo mundo assistir.
Não se limite à programação oficial.
A programação paralela da Flip costuma ser o brilho da festa. Mesmo que você não esteja em Paraty e não possa participar das conversas, é legal dar uma olhada nos eventos promovidos pelas casas de editoras independentes para conhecer os nomes e livros que estarão participando.
Tenho um plano, mas trabalhe com a flexibilidade
No meio de tanta informação e possibilidades, gosto de criar um cronograma, mas nada muito rígido. Defino quais mesas são imperdíveis para mim (eu escolho uma por dia), tenho em vista algumas que também são interessantes e deixo a vida acontecer um pouco, no meio do caminho sempre tem alguém que acabe te levando pra outro lugar.
Priorize os encontros
Ouvir debates, ir em lançamentos, participar das conversas é maravilhoso, mas acho que os momentos de maior conexão acontecem nos encontros menores, na rua, em torno de comida, bebida, música. Uma das coisas mais legais da Flip é reunir pessoas de diferentes estados em uma mesma cidade, então, aproveite esses encontros.
Por último as dicas de taurina, com os meus lugares preferidos para se mimar em Paraty, sim, estou falando de comidas:
Bombom de brigadeiro no Bombom da maga. Sou completamente apaixonada pelos chocolates dessa loja que é uma empresa familiar já tradicional na cidade (pelo menos 1 bombom de brigadeiro por dia tem que rolar).
Coxinha + coquinha, em frente ao Bombom da maga tem uma moça que vende uns salgados enormes e deliciosos, não tem nome nem nada, só uma plaquinha, é a alimentação perfeita quando você tá precisando de uma gordura-cura-ressaca e tá sem tempo para um almoço de verdade (não sei se com 34 anos, serei tão feliz nessa escolha, mas fé!).
Café especial no Montañita, um café lindinho demais com ótimas opções de grãos. É o lugar para fazer uma pausa, encontrar amigues e bater papo.
Tapete mágico no Istambul Paraty, já é tradição almoçar pelo menos uma vez nesse restaurante que fica fora do Centro Histórico e bem próximo à rodoviária. É uma delícia, lindinho e com preço bom (mas é pequeno e fica caótico na época da Flip, então vá sem estar com muita pressa ou fome).
Agenda Flip 2024
Essa será minha 4º edição da Flip! Ano passado estava só passeando e distribuindo por aí uma zine com textos do livro que publiquei este ano e que lá em 2023 era um projeto ainda sem uma editora. Estou muito feliz de voltar para Paraty carregando na mala alguns exemplares do Expansão Marítima e da zine Receitas para o fim!
Mais ainda de participar de duas mesas falando sobre newsletters e mais alguns eventos. Minha agendinha até agora está asssim (e aqui tem as informações completas):
Na quinta (10/10) às 19h participo da Gira literária da Livraria Muvuca!
Na quinta (10/10) às 20h participo da conversa “Da newsletter ao livro”, com
e na casa Escreva, garota!E na sexta (11/10) às 18h30 estarei com
, e na Casa Libre participando da mesa “Newsletter e o novo espaço para a escrita online”.No sábado (12/10) às 16h vou estar na BiblioSesc para o lançamento da Paquetá Revista de arte do Sesc-Rio com Cidinha da Silva e Luna Vitrolino!
No sábado (12/10) às 18h também estarei na Picareta cultural lendo poemas dos meus livros (e alguns inéditos). O sarau vai rolar no Areal do Pontal!
Se você me encontrar me equilibrando pelas ruas de Paraty, vem me dar um oi? Vou adorar conhecer pessoas que são leitoras da Trajetos de escrita 💕
Que seja uma Flip linda e memorável para nós!
Oficina criativa: Escrever a infância
Depois da Flip vou dar minha última oficina online do ano: Escrever a infância
Nessa oficina vamos investigar como as marcas da infância seguem falando ao longo da vida, sendo material para a escrita de textos entre tempos, literaturas em que o passado se infiltra no presente ou o presente provoca novas formas de acessar e elaborar o que foi vivido no passado.
Assim, a oficina é composta por três encontros: Primeiros letramentos; Escrever ou rasurar a infância? e Crianças viadas ou problemas de gênero.
Quem se inscreve recebe um dossiê de leitura com de textos de autores como Annie Ernaux, Heleine Fernandes, Tatiana Pequeno, Paul B. Preciado, Floresta, Estela Rosa, Calila Das Mercês, entre outres. Além disso, ao fim de cada encontro será proposto um exercício de escrita criativa.
A oficina será online nas quartas do dia 23 de outubro a 06 de novembro das 19h às 21h.
Você pode conferir as informações completas e se inscrever neste link.
Já escrevi sobre criar fora do centro e dos espaços de legitimação aqui:
boa flip! 😊
Vai ser lindo te ver por lá!