Quatro falas curtas sobre o desejo

uma experiência a partir da oficina “textos breves, amores longos” de Flávia Péret

conchinha

de repente nomes de partes que nunca vi só mexi, estiquei e dobrei passam a me interessar. fêmur, tíbia, fíbula, patela, tendões, cartilagens. estudo a natureza dos ligamentos pra entender como pode um corpo do lado de outro corpo se tornar uma peça. 

por acaso

a primeira vez que vi algo em você foi pelo celular de uma amiga: “sua cara”. gostei, mas deixei quieto. até ouvi seu nome uma vez ou outra, sem dar muita atenção. em um sábado soube que você também já tinha visto algo em mim. o que é mais do que apenas me ver. depois disso você apareceu na tela do meu celular. te olhei e arrastei o seu rosto para o lado direito. quando a gente se encontrou senti com angústia que perdi o começo.

fala curta sobre a Tijuca

Katherine Mansfield encontraria o êxtase aqui. entre bazares de igreja, quinquilharias e um cardápio de farmácias. população 50% bolsonarista / 50% sapatão. aos domingos, desvio das famílias tradicionais e de algumas esquinas. me ocupo da segunda parte. sempre me arrumo para ir à feira. 

tudo passa

tinha também uma coleção de pelos guardados. um dia, esqueceu a janela aberta. demorou um bom tempo para reparar que não estavam mais lá. até hoje não se perdoa por não ter sentido falta.

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Esses fragmentos foram escritos durante a oficina "textos breves, amores longos" realizada pela Flávia Péret no PACC-UFRJ. A proposta da oficina era apresentar o gênero "texto breve" a partir de escritoras como Lydia Davis e Anne Carson. Eu me considero uma escritora de fôlego curto que tem uma grande queda pelos fragmentos, então, não tinha como perder a chance de participar dessa oficina.

Além disso, a Flávia é uma grande amiga e estar com ela sempre me desperta muitos bons sentimentos. Durante os dois dias de encontros, senti que estava cuidando da minha criatividade, escrevendo, compartilhando ideias e ouvindo os textos de outras pessoas.

Como alguém que trabalha oferecendo oficinas e mentorias de escrita, frequentemente sinto a necessidade de estar do outro lado, isto é, ser só mais uma participante e não uma mediadora. Entendi há um tempo que é fundamental entregar meu tempo e minhas palavras ao cuidado de outras pessoa para que eu possa continuar alimentando minha criatividade e, assim, seguir escrevendo e cuidando da escrita de outras pessoas. E sempre que posso aproveito essa oportunidade.

Qualquer dia quero escrever mais sobre essa relação de cuidar da nossa criatividade em espaços coletivos. Por uma questão de prioridades momentâneas, ando sem tempo para me dedicar a essa newsletter. Em pleno fim de período do doutorado (caso você não saiba, esse semestre ingressei no PPG Literatura, Cultura e Contemporaneidade na Puc-Rio), estou precisando focar na escrita da minha pesquisa e, por isso, essa news anda um pouco parada.

Esses textos breves foram, então, a minha forma de dar notícias. Logo vem as férias e espero ter mais tempo para colocar no papel as muitas ideias de textos que tenho guardadas na cabeça e nos meus caderninhos (torçam por mim!)

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Oficinas e laboratórios de escrita

Em julho, vou realizar novamente a Oficina criativa: Escrever o desejo e o Laboratório criativo: Investigando projetos de escrita.

A Oficina criativa são dois encontros online para ensaiar formas de ler e de escrever o desejo a partir de um olhar dissidente. Os encontros serão nas terças 11 e 18 de julho das 19 às 21 horas. As informações completas estão no Formulário de inscrição.

O Laboratório criativo são três encontros online quem tem um projeto de escrita guardado no bloco de notas ou como um desejo ainda não concretizado. Nesse laboratório, investigamos questões como: Por onde começar um projeto de escrita? Como alimentar a inspiração? E realizamos exercícios para entender melhor quais são os temas que nos interessam e como a nossa rotina de escrita funciona. O Laboratório acontecerá nas quartas dias 12, 19 e 26 de julho. Você encontra todas as informações no Formulário de inscrição.

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