Se eu for honesta, ano passado teve um começo bastante difícil. Lembro de encarar com coragem os primeiros dias chuvosos de janeiro. Uma coragem de quem sabe que vai dar trabalho.
Uma coisa boa de chegar aos 30+ é adquirir repertório, inclusive, de como se retirar de crises e tristezas.
Por exemplo, você aprende que o tempo sempre ajuda, mas o tempo não serve de nada se você não faz algo com esse recorte imaginário que dá forma as nossas vidas.
Em janeiro de 2023, já sabia que ia levar tempo. Então, escolhi usar minha paciência taurina dessa vez comigo mesma. Não tinha outro caminho se não todo dia insistir um pouquinho, do jeito que dava, para fazer o que era preciso ser feito.
Essa cartinha é uma retrospectiva das coisas que deram trabalho - e como ainda dão - mas que valeram a pena de terem sido feitas.
Acordei comigo
Esse ensaio que escrevi e publiquei aqui no início de 2023 acabou atravessando meu ano. Acordar comigo foi ao mesmo tempo uma metáfora e uma prática de estar presente para mim.
Entendi no meu processo de análise que estar disponível para as minhas próprias demandas não é algo natural para mim. E que abrir espaço para estar comigo era, então, um hábito que pedia insistência. Acordar comigo foi como uma ginástica. Pouco a pouco fui ganhando mais fôlego, mais gosto.
Abrir esse espaço, construir uma rotina mais aconchegante e proteger meus limites foram práticas corriqueiras, emboladas nas atividades pequenas da rotina, mas que mudaram o modo como lido comigo e com meus sentimentos.
Terminei de escrever meu livro
Desde 2020 eu estava pesquisando e escrevendo um livro sobre ser filha do meu pai. Em 2023, eu decidi que queria terminar esse processo. Investi em um processo de mentoria criativa com a Laura Cohen e comecei a traçar o que precisava ainda escrever para finalizar o livro (o que é sempre um mistério).
Escrevi, reescrevi e, principalmente, editei, pensei e estudei muito estruturas narrativas para entender como queria montar essa história.
Agora, eu acho, o livro é sobre uma relação entre filha e pai que formam duplos/duplas com seus espelhamentos e sombras.
Terminar de escrever o livro foi ver essa história deixar de ser sobre mim. Descobrir outras histórias dentro da minha própria história de vida causa efeitos difíceis de traçar.
Eu ainda estou me entendendo com o que esse processo provocou em mim. Colocar em palavras algumas sensações às vezes é um pouco como olhar de frente para elas pela primeira vez. Tem alguma dor que precisa ser elaborada, mas também há o prazer de descobrir algo novo. Por enquanto, o que sinto é que as possibilidades de vida se ampliaram depois de terminar esse livro.
Espero que em 2024 o livro seja publicado e venha ao mundo. E que as descobertas dessa investigação me levem para novos lugares também. Principalmente, eu desejo que me ajude a ser mais livre.
De repente loira
Eu sei que parece uma bobeira, mas platinar o cabelo foi uma das experiências mais legais de 2023. Eu nunca tinha pintado meu cabelo e adorei, de repente (depois de umas boas horas no salão), me ver de um jeito totalmente novo.
Mudar fisicamente foi um jeito de convencer minha personalidade estática taurina de que mudanças podem ser muito divertidas.
Voltei a estudar
Em 2023, entrei no doutorado e voltei a frequentar um espaço universitário (do qual estava afastada fisicamente desde a pandemia). Foi um desafio em muitos aspectos, mas uma decisão que me deixou muito satisfeita. Voltar a estudar e estar em sala de aula me fez perceber o quanto preciso disso, o quanto estar pensando e produzindo conhecimento faz parte de quem eu gosto ser.
Acho que outra parte interessante de ganhar idade é entender que até as coisas boas não são boas o tempo todo.
Viver dá trabalho. Absolutamente tudo que você gosta o suficiente para cuidar exige manutenção.
Essa listinha, portanto, não é um ranking de conquistas para esbanjar como eu tive um ano maravilhoso ou como sou uma máquina de realizações.
Na verdade, essa é mais uma retrospectiva sobre o que eu fiz para investir em mim, mesmo que nem sempre tivesse energia ou disposição pra isso.
Todos esses itens me exigiram disposição (até ficar loira, porque manter um cabelo platinado hidratado é um perrengue). E foram muitos os dias em que eu simplesmente preferi não. Mas, no fim do dia ou início do ano, acho sim importante reconhecer por onde caminhei para continuar imaginando o que ainda quero fazer durante o tempo que me for dado.
Começar 2024 escrevendo
Em janeiro, medio duas oficinas criativas pela Mulheres que Escrevem.
A já clássica Oficina de Leitura e Escrita Mulheres que Escrevem de Verão que medio junto com a Estela Rosa. São quatro encontros para refrescar a criatividade e passear por diferentes gêneros literários como a prosa, a poesia, o ensaio e a escrita híbrida. Essa é um ótima oficina para quem está travado na escrita e precisa de um gás para escrever! Você pode se inscrever neste link.
E a Oficina criativa: Escrever a memória que foi idealizada a partir da minha pesquisa de doutorado e investiga como poetas brasileiros estão produzindo formas de pensar e produzir memórias. A oficina se debruça em diferentes plataformas de registros de memórias como as fotografias, receitas, notícias e testemunhos políticos. As informações completas se encontram no Formulário de inscrição.
Vamos começar 2024 escrevendo?
Eu amei virar loira ter entrado para esse ranking. Depois que passei a pintar o cabelo e ter que lidar com o trabalho de mantê-lo bem, acho que mudei minha relação com essa parte do meu corpo. Mas, acima de tudo, queria comentar que você é uma inspiração muito grande e espero aprender com você para o meu 2024.
Ansiosa para seu livro! Estou me planejando para algum momento do ano fazer oficina de escrita com você